Domingo, 23 de Julho de 2013

A praia abandonada recomeça
logo que o mar se vai, a desejá-lo:
é como o nosso amor , somente embalo
enquanto não é mais que uma promessa…

Mas se na praia a onda se espedaça,
há logo a nostalgia duma flor
que ali devia estar para compor
a vaga em seu rumor de fim de raça.

Bruscos e doloridos, refulgimos
no silêncio da morte que nos tolhe,
como entre o mar e a praia um longo molhe

de súbito surgido à flor dos limos.
E deste amor difícil só nasceu
desencanto na curva do teu céu.

David Mourão-Ferreira